Depoimento de Sergio El Kadi - South American Khatru

 

Eu nasci na época em que o Yes e outras grandes bandas estavam em seu auge, e por isso mesmo não pude acompanhar de perto aquele momento tão maravilhoso, provavelmente o mais fértil da história do rock.

O "normal" para um cara da minha idade seria curtir o que rolava na época (o new wave e outras bandas pop), mas não aconteceu comigo. Embalado pela explosão do heavy metal com o primeiro Rock in Rio, passei a ouvir o que estava em voga naquela época. E foi assim que comecei a conhecer minha paixão: a música. E desde o começo dessa paixão entendi que a música, apesar de se basear em apenas 12 notas, é um universo com infinitas combinações, que devem ser incansavelmente exploradas.

E foi assim que parti para o descobrimento das origens e do desenvolvimento do rock. Conheci várias bandas e artistas muito especiais, entre eles o Yes. Infelizmente, a grande maioria destes grupos já não mais existia, e os que existiam não estavam muito na moda.

 Foi mais ou menos nessa época, quando eu tinha uns 15 ou 16 anos, que as primeiras bandas cover começaram a fazer sucesso. Mas, como é natural, até, essas bandas tocavam músicas de bandas que tinham maior cobertura da mídia e maior sucesso entre o público em geral. Assim, me lembro de assistir ao Pink Floyd Cover, ao U2 Cover, ao Guns 'n' Roses Cover, ao Deep Purple Cover, etc, etc, etc. Essas bandas faziam sucesso, com públicos bastante razoáveis, mas não duraram muito.

 Eu gostava de assistir àqueles shows. As bandas se esmeravam em tocar as músicas da forma mais parecida possível com as versões originais. E por este motivo eu me fazia sempre a seguinte pergunta: seria possível existir uma banda cover do Yes, que tem arranjos e estruturas muito mais complexas que a maioria das outras bandas? Pra mim, a resposta óbvia era que não.

 Hoje eu sei que o Yessongs, que não se chama Yes Cover, já existia naquela época, mas não era tão bem divulgada como as demais. Para se ouvir Yes, uma banda quase ignorada pela mídia, era necessário o acesso a canais específicos, e naquela época ainda não havia a Internet. E o Yessongs teve o mesmo destino das demais bandas cover.

 Mas agora estamos em uma época em que as mudanças acontecem cada vez mais rápido. Em questão de poucos anos, as bandas cover praticamente se extinguiram, e o acesso ao Yes, apesar de ainda não ser muito citado e divulgado, se tornou muito mais fácil.

 E só pode ser a magia da obra do Yes que tenha permitido ao Yessongs ter renascido de suas cinzas e, assim como o Yes, aproveitar os novos canais de acesso, para, agora sim, poder reunir os vários fãs do Yes espalhados por todo o Brasil em seus shows. Os próprios integrantes, obviamente fãs do grupo que os inspirou, fazem parte de fã-clubes baseados na Internet, o que possibilitou atingir em cheio o seu público-alvo.

 Foi por fazer parte de um fã-clube do Yes, o South American Khatru , que eu fiquei sabendo do ressurgimento do Yessongs. Para mim, seria uma ótima oportunidade de matar a saudade dos shows do Yes aos quais tive o privilégio de assistir. Entretanto, aquela velha dúvida voltou à minha cabeça: também seria uma ótima oportunidade de ver uma banda tocando ao vivo várias músicas maravilhosas e extremamente difíceis, o que por si só já é uma ousadia. Sem desmerecer outras bandas que eu também gosto, uma banda cover do Yes tem que trabalhar e ensaiar muito mais que outras bandas cover, e o risco de um fracasso é muito maior.

 Dado que o objetivo básico de uma banda cover é soar o mais próximo possível da original, como, por exemplo, cantar de forma parecida com a do Jon Anderson??? Como tocar guitarra da forma tão característica e particular do Steve Howe??? Como tocar bateria com aqueles milhares de contra-tempos infernais do Bill Bruford ou com o peso e a precisão do Alan White??? Como tocar teclados com estruturas e arranjos tão complexos como os do Rick Wakeman, considerado por muitos como o mago dos teclados??? E, finalmente, apesar de constar por último mas nem por isso ser uma tarefa mais fácil que as anteriores, como tocar todas aquelas notas do monumental baixo de Chris Squire sem errar a maioria delas???

 Mais que isso: como combinar esses cinco elementos extremamente complexos e particulares da música do Yes de forma a soar de forma quase tão fantástica e maravilhosa quanto o original??? Decididamente, não é tarefa das mais simples. E a resposta para todas essas perguntas é: paixão, dedicação e muita paciência. Conseguiriam os bravos integrantes do Yessongs atingir seus objetivos diante de um público exigente como são os fãs do Yes?

 E foi com essas questões que compareci ao show de estréia desta nova versão do grupo, no Mr. Blues, em São Paulo, que contou com um bom público, principalmente por ser uma quinta-feira. Infelizmente, um blackout em todo o sul do país impediu que o show acontecesse. Um mau presságio? Talvez. Minha decepção foi imensa, bem como a de muitos que estavam ali.

 Mas a banda seguiu em frente, e um novo show foi marcado. E desta vez não houve blackout. E enfim pude começar a responder algumas das minhas questões.

 O show foi ótimo!!! Além de comprovar a capacidade de todos os integrantes e ver grandes clássicos muito bem tocados, ainda pude ver o grupo tocando músicas desconhecidas do Yes, e foram estas que me chamaram mais a atenção. Nunca tinha sequer imaginado ver ao vivo "No Opportunity Necessary, No Experience Needed", por exemplo, e ela ficou excelente!!!

 Com o passar do tempo, novos shows foram realizados, sempre com bom público. E o repertório foi sendo aprimorado. Pela proximidade com seus fãs, a banda passou a atender seus pedidos, tocando de forma fantástica clássicos que o Yes não se sabe por quê quase nunca tocou, como "South Side of the Sky".

 E também a performance dos músicos melhorou, a banda vem claramente ganhando entrosamento. E hoje posso responder às perguntas acima referentes à dificuldade de soar como o Yes. Roger Troyjo, consegue atingir os tons altos e suaves de Jon Anderson sem forçar sua voz e cantando cada vez melhor! Júnior "Howe" faz juz ao apelido, pois em tudo soa idêntico ao original, o que é incrível! Betão cada vez mais varia as batidas de sua bateria, não se prendendo ao som original, mas caindo perfeitamente nas músicas, como se fossem novas versões possíveis para as mesmas, e isso contribui para que a banda tenha personalidade própria, apesar de ser uma banda cover! Allex Bessa, um fã incondicional do Rick Wakeman, faz de tudo para soar como seu ídolo, inclusive nos equipamentos, e em seus solos ele toca trechos de várias obras monumentais da carreira solo do Mago dos Teclados de forma absolutamente perfeita! E o humilde Gerson Tatini toca baixo como Chris Squire, sempre colocando-o em destaque e não se limitando ao tom rítmico!

 Não tenho palavras suficientes para parabenizar e agradecer ao Yessongs por toda essa dedicação, paixão e paciência. Mas penso que nada para eles seria melhor do que ficar sabendo que no show de dezembro de 1999 eu fui com um casal de amigos que sequer conhecia o Yes. E eles adoraram o show e querem saber quando haverá outro!!!

 Este fato com certeza vale mais que mil palavras: o objetivo principal da banda foi plenamente atingido! Parabéns!!!

                                                                            Sergio El Kadi